quinta-feira, 27 de outubro de 2011

TRASH É COMER MULHER MENSTRUADA, ZÉ DO CAIXÃO É SUPER CULT

pub. dia17/10/2008 por Leandro Hammerschmidt

Super Cult nos EUA e agora aqui no Brasil!

Também pudera. O personagem de José Mojica Marins mora naquele mesmo lugar de um Drácula, um Karloff, um Lugosi e um Saci. Se você ainda não percebe isto é porque ele esta vivo, e que assim permaneça por mais algumas dezenas de anos. O cineasta é homem do povo, do povo brasileiro, seu personagem Zé do Caixão é patrimônio da nossa cultura. Bem, na verdade, é universal nosso Coffin Joe.

Mojica é carismático e até bem bizarro (não por aquilo que fez e faz no cinema), mas sim pela trajetória como cineasta/personagem que foi de coveiro cruel e sádico a candidato a vereador; de cineasta marginal/preso duas vezes a convidado de honra em festividades; de marca de cachaça a modelo de carro. O público adora Mojica, mas não é difícil encontrar entre seus fãs aqueles que nunca assistiram a um filme seu. Vai entender! Pra descobrir um pouquinho mais, a equipe do jornal TiraGosto foi atrás dele nestes dias em que esteve aqui em Curitiba para o 3º Festival do Paraná de Cinema Brasileiro e Latino.


Antes de tudo quero fazer algumas considerações sobre o criador e a criatura:

1) O cineasta José Mojica Mojica se mistura ao personagem Zé do Caixão, uma coisa que vai “além muito além do além”. Mas num episódio a Revista Realidade publicou uma reportagem insinuando que ele dependia do Zé do Caixão, depois disso o cineasta fez sete filmes sem usar o personagem. Só de pirraça.

2) Mojica foi pioneiro em muitas coisas aqui no Brasil do terror a zoofilia – no filme “24 horas de sexo ardente” coloca o pastor alemão Jack pra fazer amor com uma mulher, inclusive amor anal

foi seco!
continuando as considerações:

3) Mojica já foi acusado de misoginia (repulsa mórbida do homem pelas relações sexuais; horror às mulheres) por causa dos horrores que causa as fêmeas nos filmes: ratos, baratas, cobras e aranhas; e até cena de estupro. Inclusive no último filme “Encarnação do Demônio” tem uma cena de terror “que americano nenhum teria coragem de fazer”. Por isso sinto muito pelas lindas caixonetes!

4) Zé do Caixão não faz só filme, faz além disso: faz cinema. É artista sensível ao público. Primitivo como explica Glauber, autêntico, seguidor da sua intuição e aqui reside a sua força. Aliás, Mojica é a unanimidade entre Sganzerla e Glauber. E eu de inocente, puro e besta pensava errando sobre o que era ser primitivo. Achei que ele tinha sido romantizado e nem me dava conta (antes de conhecê-lo) da preciosa técnica - mesmo que não muito didática -, atrelada ao sentimento, condições e mística do Mojica.


O homem da cartola e capa preta ganha força no modo como fala, na sua teatralidade, nas famosas unhas. O cara é um saci, “uma lenda-viva”, coisa que ele mesmo faz questão de anunciar. Aliás, Mojica sabe vender seu peixe. É bom principalmente na escolha dos títulos (tem tudo de Sampa, cordel e NP): “Sexo e Sangue na Trilha do Tesouro”, “D’gajão Mata para vingar (feito aqui no Paraná)”, “Beijos a Granel”, “Ritual dos Sádicos (O Despertar da Besta)”. Sem me esquecer dos títulos mais românticos “À meia-noite levarei sua Alma” e “Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver” - os dois primeiros da trilogia que se completa em “Encarnação do Demônio”.

FICHA DA CRIATURA, ZÉ DO CAIXÃO

Seu nome é Josefel Zanatas, agente funerário, filho de pais ricos, mas que foi rejeitado por outras crianças justamente pelo ramo da família. Lá pelas tantas perde os pais. Na época que ele já está acertado com uma mulher. Depois do acidente de avião (que morrem os pais dele e os pais dela) Josefel resolve se alistar no exército pra lutar na 2º guerra mundial. Dos campos de batalha – na Itália – envia cartas que jamais chegam a sua garota (teve problemas de correspondência assim como Drácula). E por causa deste desentendido quando regressa herói de guerra encontra sua amada no colo do prefeito. O que ele faz? O que você faria? Josefel dá um balaço na boca do político e mata a infiel também. Não é preso por ser herói. Mas se revolta e sai por aí desiludido.

Nesta época só as crianças gostam dele. Josefel só veste roupa preta, barba e cartola. Ganha poderes: “o poder de assustar os outros”. No seu julgo aqueles que se assustam com ele são inferiores. Logo, podem morrer. Dali pra frente Josefez sai em busca de pessoas (+ mulheres) que pensam como ele, ou seja, pessoas frias que não sentem amor nem ódio. Nas palavras de Mojica, o Zé do Caixão quer “justiça”. Esta parte da justiça ficou meio sem nexo pra mim, mas tudo bem. Salvar a humanidade é o argumento, espalhando uma raça superior na face da terra. Basicamente é isso.

ENTREVISTA

Que felicidade! Conseguimos uma entrevista exclusiva com o Mojica no domingo (12). Peguei o bicho chegando da feirinha do largo da ordem. Ele me falou de uma feira maior lá em São Paulo. Convencido! Ele estava muito bem acompanhado por Jannete Tomiita, Paulo Sacramente, o produtor, e por sua filha LizVamp. Filei dele um cigarrinho mentolado e ficamos ali na frente esperando meu camarada Igor Kalashnikov chegar com a câmera pra gravar a entrevista. De três em três carros que passavam um dava uma sinal pra Mojica.

Não conseguimos as imagens, mas pude matar minhas curiosidades:

Você pertence à Ordem do Dragão? Não, mas foi convidado. Conheceu o Lugosi? Não, mas ganhou um anel da filha do Boris Karloff. Já foi preso duas vezes né!? Sim, foi preso e perseguido por muitos anos, ameaçaram queimar todos os seus filmes. Sua formação religiosa? Católico até o dia que um padre deu chilique. Bebe Coca? Não, porque, assim com eu, ele sabe que cafeína é broxante para o homem e esterilizante para a fêmea. Quem morreu? O primeiro foi Nuvem Branca, excelente foquista, que morreu de tanto beber. E as mulheres? Zé é casado com uma de 25 anos. Falou ainda sobre o bebê diabo. Estendeu sobre o jornal Notícias Populares. Sobre a tal feira de lá. Sobre a vaca mecânica de 300 mil reais que faliu num sei quem. E mais sobre um monte de coisas destes 50 anos de carreira. Até que Paulo Sacramento, o produtor do filme, chega (junto com Igor) avisando que a “van do almoço” sai em três minutos. Valeu mesmo!

Pelo que o amigo leitor pode perceber: não levo jeito pra entrevistas, muito menos na área cultural - que interessa muito mais o pensamento que a vida do artista. Mas pra que separar Zé e Mojica? Não pensei nada pra assumir papel de fã já no hall do hotel. Disse assim pra ele “no começo você parecia um gato preto com aquela barba preta, aquele cara de lunático”. Entregamos até um livro sobre a história do NP, jornal que lhe ajudou e que ele ajudou muito também – principalmente na hora de dar fim ao Bebê Diabo depois das 21 capas seguidas, mandando o cramulhãozinho lá pra Qui-Bebe, na Bahia, e depois pro exterior. Bom na Bahia eu já sabia, mas o lance do exterior ficou no ar.

O COMEÇO DA TRILOGIA

Não quero entregar, mas uma cena belíssima de “A meia noite levarei tua alma” (primeiro da trilogia) é quando Josefel mata seu pobre amigo na banheira. Aquilo sim é terror, ele acomodando o cabra e abrindo a torneira.

Mais cenas do Mojica? A beleza de “aranhas vindo por baixo da porta”. O Inferno frio e colorido num filme P&B. O estupro “divino, maravilho” internacional. Uma cena do segundo filme da trilogia “Esta Noite” é a felicidade de Laura rodando em seus braços. Triste destino.

“Padre me dê este crucifixo, quero crucificá-lo de novo” - A igreja sofre nos filmes do Mojica. Eles vão desmistificando. Sabia que Mojica tem formação católica? Nada mais terrível que o catolicismo né!?
Quem é o inimigo? - Neste mundo politicamente correto, muito sutil, que estuprador se lasca, onde o Zé do Caixão poderia morar em paz? Cadeia! Sim. 40 anos. 10 a mais que o João Acácio da luz vermelha. Pela lei acho que nem pode ficar mais de 30, mas ouvi dizer que existe um cara preso há 39 anos no Brasil. Que seja! Zé do Caixão mata um pra cada ano e quando sai, quem ele mata? Uma dica: Zé do Caixão tem tanto carisma que não poderia ser só um simples assassino. Zé do Caixão é justiceiro. Um lampião.

Perguntei pro Mojica quem o Zé do Caixão mata? “Todos que cruzam seu caminho” [até chegar ao filho perfeito]. Simbolicamente ele mata político, polícia, padre, poder, gente que maltrata crianças e – como ele não é de ferro – algumas mulheres à toa e, numa situação limite, lindas velhas ciganas inclusive. Na cena mais bonita e depois sangrenta da terceira parte da trilogia.

Também perguntei o que mudou no terror nestes 42 anos? O que você acha leitor que mudou? Será que é sempre a mesma coisa que assusta? Alguém se assusta ainda? Mojica usa mais de três mil baratas “em cada cena morria 100” e o resto é surpresa. Assista “Encarnação do Demônio”. Mas saiba que no fundo Mojica é um romântico que faz filmes de terror pra juntar pessoas – o casal fica assustadinho, se agarra e pimba!

Encarnação do Demônio - Mojica queria arrebentar os limites, mas reconhece que mesmo com toda esta liberdade e produção nem conseguiu chegar lá - aonde sua imaginação vai.

O roteiro pra “Encarnação do Demônio” existe desde 1966 se não me engano. Um azar desgraçado impediu a realização desse filme. Primeiro parece que morreu o primeiro produtor, a viúva nem sabia de nada, nada ficou escrito, faltou grana: parou o filme. Desta vez foi tudo jóia. Só morreu o Jece Valadão, faz parte do show, mas o filme saiu e junto com Batman.

O roteiro já existia desde de 1966, como disse. Mas desde “Esta noite encarnarei no teu cadáver” muitas coisas mudaram. As crenças, o terror, a religião, o Brasil, enfim, tudo. As coisas mudaram. Menos uma coisa, o “o sangue (ainda) é a razão da existência”. Então, lá foi Josefel mais uma vez atrás daquela mulher que pudesse lhe dar o filho perfeito (filho né! porque filha tanto o personagem quanto o Mojica já tem. E é a mesma, Liz Vamp, mas isso é outro papo). Josefel quer um filho macho, aquele que salvará a humanidade. Que vai dar início a uma raça superior, sem amor ou ódio, sem crenças e fraquezas. Totalmente demais.
Nessa busca aparece cada mulher meu amigo. E aqui está um segredo não muito escondido do nosso terror.


Não consigo me esquecer da beleza e simpatia da japonesa Jannete Tomiita, modelo, desenhista e atriz de 22 aninhos; que numa das cenas do “Encarnação” fica rezando costurada dentro de um porcão. Janete disse que sofreu pra fazer e que ficou com muita pena do bicho e contou que o porco foi comido depois. Penso que se estivéssemos no Japão, do jeito que ando lendo Suehiro Maruo e consumindo pornografia japonesa, talvez este animal valesse uma pequena fortuna por causa do inusitado. Era só questão de achar o decano correto.

Não perguntei ao Mojica como vão as caixonetes? Quantas e tão corajosas! Mas sei que muda a vida de uma garota cruzar o caminho de Josefel Zanatas. Cadê a Laura? E a Teresinha? Não tiro da minha cabeça a pobre choramingando “você me desgraçou Zé, vou me matar”.

Voltando ao “Encarnação” preciso dizer que o desenrolar do filme é interessante. Os caras tem o filme na mão. Com destaque para a macumba e para o Mistificador, aquele louuuuuuco do Zé Celso, que fica olhando as coisas pelo buraquinho do olho da caveira de abutre. Bom, já falei demais sobre o filme. Agora é com você. Vá ao cinema conferir “Encarnação do Demônio”. Prestigiar o cinema nacional. Senão você vai engordar até sua cabeça explodir - praga do homem!

.

3 comentários:

  1. Jackson Sardá Says:
    outubro 20th, 2008 at 12:54 pm

    Mojica… simplesmente MOJICA!! … Zé do Caixão fala por si só… ótimo texto, gostei muito das referências que vc colocou aí e tudo mais… e Viva a Misogínia!! … hahahaha… um Grande Abraço, Jackson Sardá. 20/10/2008.

    ----

    $amuca Toaldo Says:
    outubro 20th, 2008 at 3:16 pm

    Oh Zé é foda… come a mulherada de roupa… “Puta unha” hahahahaha

    ----

    franco Says:
    outubro 20th, 2008 at 7:16 pm

    Hey Leandro, quem é essa “Laura que o Ozzy fica chamando”?

    Abraço e parabéns pelo texto!

    ----

    leandro Says:
    outubro 21st, 2008 at 3:10 pm

    abração pra vc Jackson e um viva as caixontes!

    Samu, o Mojica tá com 72 anos, não dá mais pra pegar garoa à toa.

    e a Laura, Franco, é aquela que o Ozzy chama nos shows tá ligado!? Acho q chama desde a época do Randy Rhoads (se não for pira errada minha), mas tb em algumas músicas no “reunion” do Sabath. Ouça lá!
    http://b.radio.musica.uol.com.br/radio/index.php?busca=Black+Sabbath&param1=homebusca&check=artista

    ----

    Rodrigo Boca Says:
    novembro 11th, 2008 at 2:17 am

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, o Ozzy não grita “Laura”, ele grita “LOUDER”, ou seja, “mais alto”. Certo?

    ----

    leandro Says:
    novembro 11th, 2008 at 1:51 pm

    putzzzzz Boca

    o que um esfíncter diria nesta hora?
    eu podia jurar q ele gritava Laura, q burro!!!
    até contei a história pro Zé do Caixão; isso q deu ter parado o inglês na oitava série.

    Mas vamos combinar uma coisa amigo leitor: se por acaso um dia vc encontrar o Zé do Caixão e ele te contar esta história NÃO me desminta!
    se tratando de uma lenda viva uma mentirinha a mais uma menos não faz mal, rs

    ----

    Rodrigo Boca Says:
    novembro 11th, 2008 at 4:46 pm

    kkkkkkkkkkkkkkkk, ctz, não vou desmentir não hahahha.

    ----

    Rodrigo Boca Says:
    novembro 11th, 2008 at 4:48 pm

    Aliás, seria muito mais interessante se o Ozzy chamasse por “Laura” mesmo haiuhaiua

    .

    ResponderExcluir
  2. galera desculpa ai mas eu acho anime muito mais interesante que isso ai

    ResponderExcluir